sexta-feira, 23 de março de 2018

Testemunho do Mecanismo - o lado negro da força!

Juíza diz em artigo que existem duas justiças no Brasil: A dos juízes indicados por políticos e a dos juízes concursados

Autoria: juíza Ludmila Lins Grillo.

Esse texto, conforme a autora foi escrito em dezembro de 2016


"Sempre que o STF profere alguma decisão bizarra, o povo logo se apressa para
sentenciar: “a Justiça no Brasil é uma piada”. Nem se passa pela cabeça da 
galera que os outros juízes – sim, os OUTROS – se contorcem de vergonha com
certas decisões da Suprema Corte, e não se sentem nem um pouco representados
por ela.

O que muitos juízes sentem é que existem duas Justiças no Brasil. E essas
Justiças não se misturam uma com a outra. Uma é a dos juízes por indicação
política. A outra é a dos juízes concursados. A Justiça do STF e a Justiça de
primeiro grau revelam a existência de duas categorias de juízes que não se
misturam. São como água e azeite. São dois mundos completamente isolados
um do outro. Um não tem contato nenhum com o outro e um não se assemelha
em nada com o outro. Um, muitas vezes, parece atuar contra o outro. Faz
declarações contra o outro. E o outro, por muitas vezes, morre de vergonha do
um.

Geralmente, o outro prefere que os “juízes” do STF sejam mesmo chamados de
Ministros – para não confundir com os demais, os verdadeiros juízes. A atual
composição do STF revela que, dentre os 11 Ministros (sim, M-I-N-I-S-T-R-O-S!),
apenas dois são magistrados de carreira: Rosa Weber e Luiz Fux. 

Ou seja: nove deles não têm a
mais vaga ideia do que é
gerir uma unidade judiciária!!!

...a quilômetros de distância de sua família, em cidades pequenas de interior, com
falta de mão-de-obra e de infra-estrutura, com uma demanda acachapante e
praticamente inadministrável.

Julgam grandes causas – as mais importantes do Brasil – sem terem nunca
sequer julgado um inventariozinho da dona Maria que morreu. Nem uma
pensão alimentícia simplória. Nem uma medida para um menor infrator, nem um
remédio para um doente, nem uma internação para um idoso, nem uma
autorização para menor em eventos e viagens, nem uma partilhazinha de bens,
nem uma aposentadoriazinha rural. Nada. NADA.

Certamente não fazem a menor ideia de como é visitar a casa humilde da
senhorinha acamada que não se mexe, para propiciar-lhe a interdição. Nem
imaginam como é desgastante a visita periódica ao presídio – e o percorrer por
entre as celas. Nem sonham com as correições nos cartórios extrajudiciais. Nem
supõem o que seja passar um dia inteiro ouvindo testemunhas e interrogando
réus. Nunca presidiram uma sessão do Tribunal do Júri. Não conhecem as
agruras, as dificuldades do interior. Não conhecem nada do que é ser juiz de
primeiro grau. Nada. Do alto de seus carros com motorista pagos com dinheiro
público, não devem fazer a menor ideia de que ser juiz de verdade é não ter
motorista nenhum. Ser juiz é andar com seu próprio carro – por sua conta e risco
 – nas estradas de terra do interior do Brasil . Talvez os Ministros nem saibam o
que é uma estrada de terra – ou nem se lembrem mais o que é isso. Às vezes,
nem a gasolina ganhamos, tirando muitas vezes do nosso próprio bolso para
sustentar o Estado, sem saber se um dia seremos reembolsados - muitas vezes
não somos.

Será que os juízes, digo, Ministros do STF sabem o que é passar por isso? Por que
será que os réus lutam tanto para serem julgados pelo STF (o famoso “foro
privilegiado") – fugindo dos juízes de primeiro grau como o diabo foge da cruz?
Por que será que eles preferem ser julgados pelos “juízes” indicados politicamente,
 e não pelos juízes concursados?

É por essas e outras que, sem constrangimento algum, rogo-lhes: não me
coloquem no mesmo balaio do STF. Faço parte da outra Justiça: a de VERDADE.''

Fonte: Dr. Edailton Medeiros - Campina Grande-PB
Facebook da Juíza 

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